Microplásticos aposta em tecnologia solar moldada para edifícios
Operação “Solar Sandwich”, cofinanciada pelo COMPETE 2030, cria soluções leves e versáteis para integrar energia solar nas construções.
A operação AntiGlyDisco explora novas soluções científicas para combater a resistência bacteriana aos antibióticos.
Uma nova operação científica levada a cabo pelo i3S – Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto, e cofinanciada pelo programa COMPETE 2030, está a explorar um caminho inovador para combater a crescente ameaça da resistência aos antibióticos. A operação AntiGlyDisco propõe uma mudança de paradigma: em vez de tentar matar as bactérias diretamente, como fazem os antibióticos tradicionais, pretende torná-las menos perigosas e mais vulneráveis aos tratamentos existentes.
“O projeto de investigação proposto no âmbito do convite do Compete 2030 constitui uma resposta direta à ameaça crescente colocada pela resistência aos antibióticos, um desafio premente que põe em risco a saúde pública mundial”, afirma Didier Cabanes, responsável pela operação AntiGlyDisco e líder do grupo de Microbiologia Molecular no i3S. “Nos últimos anos, a emergência de estirpes bacterianas multirresistentes, associada a fatores como a globalização, as alterações climáticas e a utilização excessiva de antibióticos, criou uma crise com um sofrimento humano significativo, perdas económicas e degradação dos sistemas de saúde em todo o mundo.”
O foco do trabalho incide sobre uma estrutura presente à superfície de muitas bactérias perigosas — os chamados ácidos teicoicos da parede (WTA, na sigla inglesa) — que, quando decorados com açúcares, ajudam as bactérias a escapar ao sistema imunitário e a resistir aos antibióticos. Esta “decoração” é feita por enzimas específicas e, ao inibir essas enzimas, é possível reduzir a capacidade das bactérias para causar infeções graves, ao mesmo tempo que se facilita a ação dos antibióticos já existentes.
Neste contexto, a equipa do i3S está a estudar uma enzima chamada RmlT, essencial para a adição de certos açúcares nos WTAs da bactéria Listeria monocytogenes, um dos patógenos alimentares mais perigosos na Europa. Apesar de não ser vital para o crescimento da bactéria, esta enzima é crucial para a sua virulência — ou seja, para a sua capacidade de causar doença. Isso torna a RmlT um alvo promissor para o desenvolvimento de medicamentos que travem a infeção sem exercer uma pressão seletiva que possa levar à resistência.
A operação AntiGlyDisco combina várias técnicas de ponta, desde a resolução da estrutura 3D da enzima, à modelação computacional e ao rastreio de milhões de compostos químicos com potencial para a inibir. Os compostos mais promissores serão testados em ensaios laboratoriais e modelos animais, para avaliar a sua eficácia, segurança e impacto real na infeção.
Além disso, os investigadores pretendem compreender como a bactéria altera a sua estrutura de superfície ao longo de uma infeção, um aspeto importante para garantir que os inibidores desenvolvidos continuam eficazes em diferentes fases da doença.
“Perante este cenário, o projeto proposto visa responder à necessidade urgente de estratégias terapêuticas inovadoras para combater as infeções bacterianas”, acrescenta Didier Cabanes. “Em vez de visar o crescimento e a replicação bacterianos como os antibióticos tradicionais, o projeto procura explorar abordagens alternativas visando especificamente enzimas de modificação da parede bacteriana envolvidas na virulência e na resistência aos antibióticos.”
Um dos grandes trunfos desta abordagem é o facto de atuar sem afetar o crescimento das bactérias de forma direta. Isso significa que os tratamentos derivados desta investigação terão menos probabilidade de promover o surgimento de novas resistências, além de preservarem a microbiota — o conjunto de bactérias benéficas presentes no organismo humano.
O impacto da operação poderá estender-se além da Listeria monocytogenes, uma vez que a enzima RmlT partilha semelhanças com enzimas de outras bactérias perigosas, como o Staphylococcus ou o Enterococcus. O objetivo final é criar uma nova geração de medicamentos que não só reduzam a capacidade de infeção das bactérias, como também melhorem a eficácia dos antibióticos existentes.
“O financiamento do Compete 2030 deverá permitir o desenvolvimento de novos inibidores antibacterianos, contribuindo significativamente para o conhecimento científico, a prestação de cuidados de saúde e o bem-estar social”, conclui Didier Cabanes.
Com uma abordagem multidisciplinar e colaborativa, a operação AntiGlyDisco posiciona-se na linha da frente da luta contra a resistência antimicrobiana — uma das maiores ameaças à saúde pública a nível global — e alinha-se com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030, em particular no que toca à promoção da saúde e bem-estar e à inovação científica ao serviço da sociedade.