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Ana Palmeira de Oliveira: Liderança feminina na transformação empresarial da Beira Baixa

No Dia Internacional da Mulher, conversamos com Ana Palmeira de Oliveira, Presidente da AEBB e Diretora-Geral da Labfit, cujo papel vital na dinamização do tecido empresarial da Beira Baixa se destaca. Uma entrevista reveladora sobre os desafios, conquistas e a visão para o futuro desta influente investigadora.

6 de Março 2024 | Notícias

A Presidente da Associação Empresarial da Beira Baixa e Diretora-Geral da Labfit, partilha a sua trajetória profissional, desafios, e a importância de celebrar as conquistas femininas.

No âmbito do Dia Internacional da Mulher, conversámos com a Presidente da AEBB – Associação Empresarial da Beira Baixa e Diretora-Geral da Labfit, cujo papel vital na dinamização do tecido empresarial da Beira Baixa se destaca. Uma entrevista reveladora sobre os desafios, conquistas e a visão para o futuro desta influente investigadora.

Esta Mulher de múltiplos talentos, desempenha também papéis fundamentais como professora convidada na Universidade da Beira Interior e como investigadora principal do projeto PAM4Wellness – de plantas aromáticas e medicinais, cofinanciado pelo COMPETE 2020. Venha conhecer esta líder que inspira e impacta a região!

• O que a levou a escolher a investigação como o seu caminho profissional?

A procura de respostas para problemas fez sempre parte do nosso ambiente familiar, das conversas à mesa. Os meus pais são ambos médicos e naturalmente a área da saúde foi surgindo como uma opção. Neste contexto, fui educada para a procura de soluções, sempre rodeada de um saudável sentido de inquietude e vontade de resolver, de forma eficaz, problemas das pessoas, problemas do dia-a-dia. A investigação em ciências da saúde é uma forma de concretizar esse modo de estar e pensar.      

• Qual foi o momento mais emocionante no seu trajeto profissional?

No trajeto profissional académico foi o dia da minha licenciatura (o meu curso de ciências farmacêuticas é anterior à reforma de Bolonha). Senti que naquele momento estava tudo a começar, agora a outro nível, e que o valor do meu diploma dependeria da minha capacidade de trabalho e foco. O dia do doutoramento, alguns anos mais tarde, foi a concretização desse esforço. No trajeto profissional foi o dia em que ganhamos um projeto de financiamento na empresa, o antigo QREN, com menos de um ano de atividade e que nos permitiu alavancar o que hoje é a Labfit. Emocionei-me porque, no meio de tanta incerteza que é criar uma empresa com base em I&D, senti que aquele era um voto de confiança relevante. Foi difícil executar, mas foi um projeto mesmo muito importante para o início e aceleração da empresa.   

• No âmbito do Dia da Mulher, qual a importância de realçar e celebrar as conquistas das mulheres no campo da investigação e na academia?

É sem dúvida nenhuma uma oportunidade de todos tomarmos consciência do tanto que já se conquistou, mas do caminho que ainda está por fazer. Quando recordamos mulheres como Madame du Chatelet somos confrontados com a anulação de identidade a que as mulheres estavam sujeitas porque não era credível (nem admissível) conhecimento gerado por elas, embora fossem as autoras e detentoras de uma inteligência indiscutível. Hoje as mulheres estão na dianteira da ciência, do desenvolvimento e da inovação. É impossível, nos países desenvolvidos, questionar o seu contributo e a sua relevância. Infelizmente o mesmo não acontece em outras culturas. Ainda há consciências a despertar.    

• Que conselhos daria a mulheres que ambicionam desempenhar papéis de liderança e influência no meio académico e na investigação?

Não se sintam culpadas. Penso que o maior travão para as mulheres, foi durante muito tempo, esta perspetiva social de que a família e os filhos seriam a sua prioridade e só depois a profissão e a carreira. Por isso, com qualquer mulher que desempenhe funções de liderança, a visão que posso partilhar, e que é a minha, é que não nos devemos sentir culpadas por a nossa felicidade e o nosso contributo para a sociedade incluir a dimensão profissional, a par da dimensão pessoal e familiar. E claro, se considerarmos que somos nós que educamos hoje os adultos de amanhã, saibamos passar aos nossos filhos estes valores. Penso que tem vindo a ser feito um bom trabalho e por isso se tem evoluído tanto.

E qual foi o desafio mais interessante de superar no contexto do projeto PAM4Wellness?

O maior desafio foi criar um projeto multidisciplinar, só possível com o contributo de uma equipa que garantia todas as áreas de conhecimento necessárias. Depois ao longo do projeto foi assegurar que nenhum objetivo ficava para trás. O PAM4wellness foi um projeto sonhado e criado numa análise objetiva da cadeia de valor portuguesa de plantas aromáticas e medicinais: produzimos com práticas agrícolas de uma qualidade indiscutível, temos o mercado internacional a comprar o material vegetal sem, contudo, conseguirmos uma organização interna no sector primário que permita valorizar o produto; por outro lado temos em Portugal empresas de transformação de extratos que estão a comprar matéria-prima vegetal internacional bem como um sector da cosmética e produtos de saúde que procuram ingredientes naturais deste natureza. Parecia que estava cada parcela da cadeia de valor a trabalhar por si. A rede não estava, e ainda não está, todavia, criada. Não é algo que se consiga em ano e meio. Precisamos de tempo, consistência e continuidade na iniciativa. Mas o P4W foi um primeiro passo para começarmos este caminho. Muita investigação já tinha sido feita e projetos executados com valor, mas sem integração numa estratégia global. Faltava uma iniciativa que juntasse tudo. A rede interna e externa está agora montada, já fazem parte desta iniciativa empresas e entidades que representam toda a cadeia de valor e que no dia-a-dia fazem acontecer. É preciso consistência e por isso continuaremos a trabalhar esta estratégia.       

• Que outros projetos têm em cima da mesa especificamente orientado para o sector saúde: indústrias cosméticas e farmacêutica?

Para além de pretendermos avançar rapidamente com um PAM4wellness 2.0 para continuar a alimentar esta estratégia conjunta de reforço da cadeia de valor das PAM em Portugal, estamos a planear projetos de I&D específicos para valorizar ingredientes, produtos e métodos laboratoriais para testar produtos de saúde em modelos in vitro (laboratoriais), quer na perspetiva da cosmética, quer do Women Health que é a nossa especialidade de trabalho. Também em conjunto com o recentemente criado CosmeticClusterPT estamos a trabalhar a internacionalização da ciência e das empresas portuguesas deste sector.    

A sua experiência com os Fundos da União Europeia… fizeram a diferença?

Sim, sem dúvida, fazem toda a diferença. Os fundos têm um enorme impacto na concretização de projetos e isso reflete-se na ciência, nas empresas e, naturalmente, também na vida das pessoas. A velocidade a que as iniciativas se concretizam é completamente diferente se os fundos forem aproveitados de forma objetiva e aplicados em dinâmicas que permitam criar valor. Nas minhas dinâmicas profissionais e associativas, pelo que tenho visto e presenciado, penso que isso tem acontecido, de facto, em Portugal. 

Breve Nota Biográfica

Ana Palmeira-de-Oliveira, nasceu em 8 julho de 1978 e é natural do Porto. Licenciou-se em Ciências Farmacêuticas pela FFUP em 2003 e obteve o grau de mestre pela mesma instituição em 2009. No ano de 2012 obteve o grau de doutora em Ciências Farmacêuticas, na UBI. Exerce, desde 2012, as funções de professora auxiliar convidada na FCS-UBI, lecionando módulos e unidades curriculares de microbiologia, patologia da infeção e de Dermofarmácia e Cosmética. Desde setembro de 2012 é sócia gerente e diretora geral da HPRD Lda, empresa sediada na Covilhã e que detêm as marcas de atividade Labfit e Pharmapoli. Completou em 2018 o Master in Business Administration (MBA) na UBI, reforçando as suas competências em gestão empresarial. É membro do CICS-UBI, dedicando-se à investigação da fisiopatologia da infeção genital e determinação do perfil antimicrobiano de novos compostos ou estratégias terapêuticas. É autora e coautora de mais de uma centena de publicações científicas e orientadora de vários trabalhos de mestrado e doutoramento em ciências da saúde, concluídos e em curso. É ainda presidente do conselho fiscal da Sociedade Portuguesa de Ciências Cosmetológicas, vice-presidente da Associação Ibérica de Turismo do Interior, presidente do Cosmetic Cluster PT e presidente da direção da Associação Empresarial da Beira Baixa. É casada há 21 anos e mãe de 3 meninas (18, 14 e 7 anos). 

Links úteis

Notícia sobre o projeto “PAM4Wellness”: Qual o potencial das Plantas Aromáticas e Medicinais portuguesas?

Labfit | Website

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