Entre abril de 2020 e junho de 2023, o projeto INOVMINERAL 4.0, cofinanciado pelo COMPETE 2020, destacou-se como uma iniciativa de inovação no setor dos recursos minerais, com especial enfoque na pedra natural. Sob a responsabilidade de Agostinho da Silva, CEO da CEI – Companhia de Equipamentos Industriais, o projeto trouxe avanços notáveis em sustentabilidade, digitalização e economia circular. Em entrevista ao COMPETE 2020, Agostinho da Silva partilha os principais resultados alcançados e o impacto das soluções desenvolvidas na competitividade internacional do setor.
Como avalia o impacto do projeto INOVMINERAL 4.0 nas empresas e entidades envolvidas no consórcio? Quais foram os principais avanços alcançados no setor dos recursos minerais ao longo do projeto?
O projeto INOVMINERAL 4.0 trouxe um impacto profundo nas empresas e entidades envolvidas, impulsionando tanto a eficiência operativa quanto a inovação no setor dos recursos minerais, com foco especial na pedra natural. Este projeto deu continuidade a um conjunto de iniciativas anteriores, como o JETSTONE, o INOVSTONE e o INOVSTONE4.0, consolidando uma trajetória de inovação.
Entre os principais avanços alcançados, destaco o aumento da eficiência e qualidade: a introdução de automação avançada e algoritmos de deep learning possibilitou melhorias no controle de qualidade, aumentando a precisão e reduzindo o desperdício de recursos. A competitividade também foi fortemente reforçada pela redução de custos operacionais, obtida com a digitalização dos processos, que diminuiu o tempo de produção e melhorou a produtividade geral.
A sustentabilidade foi outro pilar essencial do INOVMINERAL 4.0, com o desenvolvimento de práticas de economia circular, como a reutilização de resíduos de pedra natural, aplicados em novas soluções ecológicas, como filmes à base de alginato para embalagens biodegradáveis. Também explorámos a valorização do lítio, através do projeto CAVALI, que promove a cadeia de valor do lítio com uma abordagem sustentável, minimizando resíduos e posicionando Portugal como um parceiro estratégico na exploração deste recurso.
A nível de mercado, promovemos a expansão internacional através de parcerias com arquitetos e designers de renome, o que permitiu ao setor de pedra natural português participar em projetos de grande escala em mais de 120 países, incluindo o Museu de História de Varsóvia, o Cloche d’ Or no Luxemburgo e o Perelman Performing Arts Center em Nova York. Esta internacionalização foi possível graças à digitalização intensiva e ao desenvolvimento de softwares avançados para gestão da produção, que nos alinharam com os padrões da Indústria 4.0, facilitando uma resposta rápida e eficiente às exigências globais.
Resumindo esta questão, o INOVMINERAL 4.0 demonstrou a importância da colaboração entre empresas, entidades de investigação e associações para promover a inovação e a sustentabilidade no setor. Através de uma estratégia de clusterização, o projeto não apenas aumentou a competitividade das empresas envolvidas, mas também contribuiu para o fortalecimento da economia regional e para a consolidação de Portugal como um dos principais exportadores de pedra natural e recursos minerais.
O projeto INOVMINERAL 4.0 teve um forte foco na sustentabilidade, digitalização e economia circular. Que inovações ou práticas desenvolvidas no projeto se destacam em termos de impacto ambiental e eficiência de recursos?
O projeto centrou-se em três pilares — sustentabilidade, digitalização e economia circular — que resultaram no desenvolvimento de 24 soluções inovadoras, com impacto significativo na eficiência dos recursos e na redução do impacto ambiental. Um exemplo prático foi a manufatura aditiva, que permitiu aproveitar resíduos de pedra natural, como o pó e escombros, para criar novos produtos, minimizando o desperdício. Prototipámos soluções como o “Wastelog”, que recupera resíduos no final das linhas de produção, e o “Fio de Pedra”, um sistema híbrido que utiliza resíduos minerais para a produção de novos materiais.
Foram também desenvolvidas tecnologias de corte e transformação mais ecológicas, como o “Under Cut Wire-Robot”, que proporciona maior precisão e menor desperdício na extração. Destaca-se ainda o “StoneRobot4.0”, um robô que, através do Cockpit4.0, pode realizar operações automatizadas em peças de pedra, aumentando a eficiência e reduzindo o impacto ambiental.
Além disso, investigámos materiais sustentáveis, como o “Mineral Eco Pack Material”, um filme biodegradável feito a partir de lamas de pedreira. Esta solução representa um avanço na redução do uso de plásticos. A digitalização foi outro fator chave, com ferramentas como o BIM-Cockpit4.0, que permite a integração entre as fábricas e as plataformas de arquitetura e engenharia, aumentando a colaboração e otimizando a cadeia de valor do setor.
O INOVMINERAL 4.0 mostrou como a combinação de tecnologias avançadas e práticas de economia circular pode transformar o setor dos recursos minerais, promovendo simultaneamente a eficiência, competitividade e sustentabilidade ambiental. A integração de soluções sustentáveis, aliada à digitalização e automação, permitiu que o setor se mantivesse competitivo a nível internacional, ao mesmo tempo que reforçou o compromisso com uma economia verde e inovadora.
Em termos de internacionalização e competitividade, como vê o papel das tecnologias e soluções desenvolvidas pelo consórcio na inserção das empresas portuguesas em mercados internacionais?
O projeto INOVMINERAL 4.0 desempenhou um papel fundamental ao posicionar Portugal entre os líderes no setor da pedra natural, mantendo o país no topo dos maiores produtores e exportadores. A inovação e a digitalização implementadas no projeto impulsionaram a internacionalização das empresas, permitindo que estas ofereçam produtos de elevada qualidade e competitividade nos mercados externos.
A digitalização e automação dos processos produtivos, como o desenvolvimento do “StoneLog4.0”, aumentaram a eficiência e flexibilidade, garantindo uma resposta ágil e adaptada às exigências internacionais. Este protótipo, por exemplo, não só melhora a rastreabilidade dos produtos com códigos de barras, mas também executa operações de perfuração automaticamente, tornando-o ideal para fixações em projetos no exterior.
A formação de parcerias estratégicas foi essencial, especialmente com arquitetos e designers internacionais que exigem soluções de precisão e inovação, como o CNC CGV-Mach4.0, um equipamento que corta pedras finas com alta precisão. Este investimento em tecnologia de ponta possibilitou a inserção das empresas portuguesas em projetos de prestígio, ao mesmo tempo que ajudou a diversificar a oferta com novos produtos, como o “Mineral4.0-AR”, um sistema de realidade aumentada para visualização de produtos.
A plataforma digital BLM Stone, baseada em Building Information Modeling (BIM), conecta empresas portuguesas de pedra natural a uma rede global de profissionais, promovendo uma colaboração eficaz em projetos internacionais e expandindo a visibilidade e reconhecimento das nossas empresas nos mercados globais.
As soluções e tecnologias desenvolvidas no âmbito do INOVMINERAL 4.0 posicionaram as empresas portuguesas como líderes globais em soluções sustentáveis e tecnologicamente avançadas no setor da pedra natural. Esta aposta em inovação e internacionalização tem sido essencial para fortalecer a capacidade exportadora e o reconhecimento de Portugal nos mercados internacionais, contribuindo para um crescimento sustentável e competitivo no setor.
Agora que o projeto está concluído, quais são os próximos passos ou planos para dar continuidade ao legado do INOVMINERAL 4.0 e fomentar a inovação no setor? Existem novas iniciativas em desenvolvimento ou parcerias a serem exploradas?
A conclusão do INOVMINERAL 4.0 marca o início de uma nova fase para o setor, com foco em dar continuidade aos avanços alcançados. A agenda “Sustainable Stone by Portugal”, cofinanciada pelo Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), já está em curso e conta com um investimento de 55,8 milhões de euros, envolvendo 53 parceiros, incluindo universidades, centros de investigação e empresas.
Os objetivos desta agenda são ambiciosos e incluem o desenvolvimento de novos produtos sustentáveis a partir da pedra natural e o aproveitamento de subprodutos, implementando soluções robotizadas e processos digitalizados para aumentar a eficiência. Estão previstos avanços como a criação de um Centro de Interface em Ciência e Tecnologia em Porto de Mós, destinado a investigação e inovação, e o desenvolvimento de estudos sobre a pegada ambiental do setor, promovendo práticas mais sustentáveis.
Esta agenda visa também alcançar metas estratégicas, como aumentar em 8% o valor acrescentado do setor, melhorar a produtividade, incrementar as exportações em 15%, criar 200 novos postos de trabalho qualificado, reduzir em 30% as emissões de gases de efeito estufa e quase duplicar o uso de subprodutos para uma economia mais circular.
Em linha com as políticas europeias de neutralidade carbónica e economia circular, o setor continua a explorar novas parcerias internacionais e a investir em tecnologias avançadas e em sustentabilidade. A continuidade do legado do INOVMINERAL 4.0 será assegurada através destes novos projetos, reforçando o posicionamento de Portugal como um líder inovador e sustentável no mercado internacional da pedra natural.
O Apoio do COMPETE 2020
O projeto contou com um investimento total elegível de 5 milhões de euros, dos quais 3,3 milhões foram financiados pelo FEDER, através do programa COMPETE 2020.
As exportações superaram os 3 mil milhões de euros. Este crescimento reflete o impacto de soluções inovadoras e o reconhecimento internacional de produtos farmacêuticos e dispositivos médicos nacionais.
Portugal apresenta a sua visão estratégica para o próximo Programa-Quadro da União Europeia, destacando prioridades para a investigação e inovação no período 2028–2034.
O LabX – Centro para a Inovação no Setor Público, uma iniciativa da AMA – Agência para a Modernização Administrativa, celebrou recentemente oito anos de trabalho dedicado à transformação da administração pública em Portugal.