Em julho de 2024, a Direção-Geral de Investigação e Inovação da Comissão Europeia lançou um relatório intitulado “Roteiro das Tecnologias Industriais da UE sobre Investigação e Inovação Centrada nas Pessoas para o Setor Transformador”. Este documento traça o próximo passo na transformação industrial, passando do foco da Indústria 4.0 na automação e integração digital para a visão emergente da Indústria 5.0, que destaca a sustentabilidade, resiliência e uma abordagem centrada no ser humano.
Contexto e Indústria 5.0
O relatório sublinha como os avanços tecnológicos têm alterado rapidamente o panorama industrial, desde os motores a vapor até aos sistemas altamente digitalizados da Indústria 4.0. No entanto, o documento também expressa preocupações sobre a rápida implementação destas tecnologias, realçando incertezas em relação aos impactos sociais, competitividade global e efeitos sobre os trabalhadores. O roteiro enfatiza a necessidade de uma abordagem mais refinada para aproveitar o potencial destas tecnologias, enquanto enfrenta desafios ambientais e sociais mais amplos.
No centro do relatório está o conceito de Indústria 5.0, que vai além da eficiência e produtividade, focando-se na criação de uma indústria que beneficie tanto a sociedade como o meio ambiente. Esta mudança está em linha com os objetivos mais amplos da UE, como o Pacto Ecológico Europeu e a agenda da Economia ao Serviço das Pessoas. A Indústria 5.0 prevê um setor fabril que respeite os limites ambientais, contribua para a regeneração do planeta e coloque o bem-estar humano no centro do desenvolvimento tecnológico.
O Foco no Ser Humano e Integração Tecnológica
Um dos pilares principais da Indústria 5.0 é o foco no ser humano. O relatório define este conceito como um quadro que prioriza as necessidades, capacidades e bem-estar humanos no design e implementação de novas tecnologias. Em vez de apenas otimizar máquinas, o objetivo é melhorar a colaboração entre humanos e tecnologia, aprimorando as condições de trabalho e permitindo que os trabalhadores prosperem num ambiente impulsionado pela digitalização. Tecnologias como a IA, a automação e os mundos virtuais devem aumentar as capacidades humanas, em vez de substituí-las, garantindo um equilíbrio entre máquinas e trabalhadores.
O relatório reconhece que, embora a adoção destas tecnologias esteja a acelerar globalmente, as indústrias europeias enfrentam dificuldades em acompanhar. Os dados indicam que muitas das empresas líderes no desenvolvimento de tecnologias centradas no ser humano — especialmente em áreas como a inteligência artificial — estão fora da Europa, com a maioria das patentes pertencentes a empresas nos EUA e na China. Embora alguns países europeus, como a Alemanha, França e Suíça, tenham empresas de destaque, há uma lacuna evidente que necessita de ser colmatada com políticas da UE mais fortes e apoio à inovação.
Desafios e Oportunidades para a UE
O roteiro identifica várias barreiras para alcançar a visão da Indústria 5.0 centrada no ser humano. Uma das principais é a lenta absorção de tecnologias avançadas no setor de fabricação da UE, em parte devido aos elevados custos e à complexidade de desenvolver e integrar novos sistemas. Startups em países como Itália e Alemanha estão a mostrar potencial, especialmente no desenvolvimento de tecnologias como a robótica, mas, no geral, a Europa continua a ficar atrás de outros players globais.
Contudo, o relatório também aponta para oportunidades. O aumento do investimento de capital de risco em tecnologias centradas no ser humano está a abrir novas perspetivas. Além disso, o Regulamento Europeu de Inteligência Artificial, um marco regulamentar, é visto como um passo importante para garantir que a IA seja desenvolvida e implementada de forma ética e de acordo com os valores europeus, particularmente no que diz respeito ao impacto social e ao ambiente de trabalho.
Recomendações Políticas
Para fechar a lacuna entre a Europa e os seus concorrentes no desenvolvimento de tecnologia centrada no ser humano, o relatório apela a um maior financiamento público e apoio político. Recomenda que a UE e os Estados-Membros desempenhem um papel mais ativo na promoção da inovação e da investigação centrada nas pessoas. Isto inclui o desenvolvimento de competências, incentivando a participação ativa dos trabalhadores nos processos de decisão e garantindo que o progresso tecnológico contribua para objetivos sociais mais amplos, como a sustentabilidade e o bem-estar.
O roteiro sublinha que alcançar a visão da Indústria 5.0 exigirá um esforço colaborativo entre decisores políticos, líderes industriais e investigadores. Apela à continuidade da investigação para melhor compreender o conceito de uma abordagem centrada no ser humano e para refinar os quadros tecnológicos e organizacionais que apoiarão a sua implementação. Esta abordagem holística é necessária para garantir que os avanços tecnológicos beneficiem não apenas a economia, mas também os trabalhadores, consumidores e a sociedade como um todo.
O “Roteiro das Tecnologias Industriais da EU” é um documento crucial que traça o futuro da indústria europeia. Construindo sobre os avanços da Indústria 4.0, o documento delineia um novo caminho para um ecossistema industrial mais inclusivo, sustentável e centrado no ser humano. Ao colocar o bem-estar humano, a inovação tecnológica e a sustentabilidade ambiental no centro da sua estratégia, o roteiro procura posicionar a Europa como um líder global na transição para a Indústria 5.0. No entanto, esta visão ambiciosa exigirá investimento significativo, atenção política e colaboração entre setores para garantir que o potencial das novas tecnologias seja plenamente realizado.
Marta Campino, da Unidade de Sistemas de Incentivos Nacionais da Agência Nacional de Inovação (ANI), destaca o trabalho realizado para fomentar e proteger a inovação no setor empresarial e oferece conselhos úteis para uma candidatura bem-sucedida aos avisos de concurso do COMPETE 2030.
Susana Armário, Chefe de Departamento de Relações Externas do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), destaca a importância desta entidade que tem como missão assegurar a proteção dos direitos da Propriedade Industrial no nosso país e apresenta os benefícios para as empresas.
Margarida Pinto destaca como as oportunidades de financiamento do COMPETE 2030 em Propriedade Intelectual e Industrial estão a impulsionar a inovação das empresas portuguesas.